quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Em cima do Muro na USP

Eu não tenho a mínima noção do que está acontecendo na USP neste momento, mas foi escolha minha não saber. Li, fidedignamente, todos os depoimentos de historiadores, jornalistas ou estudiosos do assunto tentando entender cada parte nesse rolo, e concordo um pouco com cada uma. Mas a verdade é que não consigo me desprender de meu egoísmo de não-grevista pela simples razão de querer que essa merda de greve não vá adiante para eu poder terminar meu semestre em paz e pegar minhas merecidas férias. E apenas por isso votei contra à greve, Ganhamos.
Isso, entretanto, não significa que sou à favor da PM no campus, e nem mesmo que sou contra. Se elas estivessem lá para garantir segurança – digo por mim: morro de medo de andar pelo campus da USP de noite – mas quem nos dera! Há diversos relatos de que ela está lá só para mostrar quem manda. E se for assim vá te catar, né, PM?
Mas o que me deixa deveras irritada nesta história é a generalização que fazem com os estudantes da USP (maconheiros, filhinhos de papai, sem-que-fazer), pois creio que não há generalização mais ingênua que esta, e não consigo parar de pensar no quanto isso é baseado, no mínimo, na inveja de não ter sido aprovado ou não ter tido um filho aprovado no vestibular, mas isso é assunto para outro momento. Por isso prefiro dizer que esta opinião se dá apenas pela falta de informação verídica sobre nossa realidade lá dentro, ou de acesso a ela, porque sabemos que uma minoria dos meios de comunicação não vai pelo mesmo erro.
Por isso quando escuto “os filhinhos de papai”, só consigo pensar em como essas pessoas certamente nunca pisaram o pé na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas), aqueles prédios caindo aos pedaços, nossa ‘Letras’ e seu banheiro de professores que demorou mais de um ano para ser concluída e nosso único elevador fechado com uma placa “Cupins”. Ah, está assim por degradação de baderneiros? Quem foi que levou cupim pra lá como forma de manifestação?
Já passeei pela maioria dos prédios do campus da USP e sempre tive por mim que existia a USP e existia a FFLCH, e qualquer coisa que falam na mídia sobre o campus é o menos aplicável possível à nossa faculdade: não sou Geraldo Alkmin para ter porcentagens na ponta da língua, mas sei que temos o maior número de alunos provenientes de Escola Pública de toda a USP. Sim, escola pública igual a vocês que nos chamam de filhinhos de papai.
Na USP, mesmo no período matutino, há gente que trabalha e tem filhos, e anda de ônibus como todo pacato cidadão. Gente que almoça e janta, contando moedas pelo famoso “bandejão” de R$ 1,90. Vestir uma camiseta de dez conto da universidade só quer dizer que estudamos lá; afinal, está escrito “USP” e não “100% maconha”; nossa carteirinha de estudante tem nosso nome, foto e curso e não a renda multimilionária de nossos progenitores. Isso são coisas que escrevem a mais, que lêem a mais.
Não é porque não vou à luta para apanhar da polícia sem razão que eu não tenha consciência de que foram através de manifestações estudantis como esta que temos muito de nossos direitos. E entendo que muitos de meus colegas (ao menos os que não caíram na contradição de combater violência com mais violência) estão fazendo mais jus do que se pensa do dinheiro que vocês dizem estar pagando para que estudemos lá, pois estão tentando manter o mínimo de humanidade.
Já quem quiser a Ditadura de volta, que queira... Eu sou dos que foram programados para pensar.